27/05/2009 - 08h37
AVALIAÇÃO INTERNACIONAL
C3 Picasso é a vingança das formas quadradas
Dirigimos o modelo que a Citroën fabricará no Brasil em versão aventureira
por LUÍS PEREZ, enviado especial a Paris
Dizem que tendências de moda e design costumam apresentar movimentos pendulares. Equivale a garantir que algumas velharias que estão no fundo do seu guarda-roupa desde o início dos anos 90 um dia voltarão a ser usadas, muito embora alguns insistam para que você jogue tudo
no lixo.
Pois é. Há uma década e meia, estavam na crista da onda as formas arrendondadas. Exemplo disso foi a coqueluche que era o desenho do antigo Chevrolet Corsa, todo redondinho, lançado em 1993. Mais ou menos na mesma época, a Volkswagen aproveitava a deixa para estampar em jornais um anúncio sobre a volta do Fusca, em que afirmava: "Não disseram que a tendência são formas arredondadas?". Pois veio a onda das minivans, nos anos 2000, seguida pela dos compactos premium, e a discussão redondo/quadrado deu uma esfriada.
Até agora ninguém havia trazido à baila esse antagonismo nas formas de carroceria. Até agora. Em outubro de 2008, a maior atração da Citroën no Salão de Paris foi o modelo Citroën C3 Picasso, misto de hatchback e minivan. Nas propagandas francesas, bem como no material de divulgação, o modelo é apresentado como "spacebox", "magicbox" ou como uma espécie de bolha – mais apropriado é chamá-lo de cubo.
Chegou para mexer com o imaginário das pessoas – quem na infância nunca teve ou sonhou ter uma imensa caixa para, dentro dela, viver em um mundo próprio, mágico? Assim é o C3 Picasso, que será fabricado no Brasil em uma versão "off-road light" a partir de 2010, segundo antecipamos na época do salão (leia aqui). Mais do que assumir, o modelo tira proveito do caráter "quadradinho".
O C3 Picasso que dirigimos na França na versão 1.4 16V de 95 cv
Confira mais de 30 fotos na galeria.
Esse detalhe importa menos na medida em que vão se descobrindo no carrinho – a versão avaliada nem foi uma das top de linha; a unidade era uma Confort, com motor 1.4 16V de 95 cv (cavalos) – uma série de soluções engenhosas, pensadas em detalhes, bem como a prova de que veículo compacto e não necessariamente de versão top também pode ser muito bem equipado.
Seu formato propicia a incorporação de uma grande área envidraçada, capaz de concentrar o máximo de luminosidade e de espaço interno sem precisar ser grande por fora – mede 4,08 metros de comprimento, 1,73 m de largura e 1,62 m de altura. Interpress Motor o avaliou em um tour na França, não só em Paris, mas em uma viagem de mais de 2.000 quilômetros, que incluiu cidades da Bretanha, da Normandia e do Vale do Loire.
Aliás, se o ex-jogador de basquete Oscar afirma que, para ser tão bom no esporte, é preciso dormir com a bola, já adianto uma experiência no mínimo inusitada com o C3 Picasso. Sem reserva prévia em hotéis entre Mont Saint Michel e Saint Malo, com tudo, absolutamente tudo lotado, pude conferir o bom espaço interno do banco traseiro ao passar uma noite inteira dentro dele. Até serve, mas melhor é uma cama king size com um bom banheiro. Nas noites seguintes, tratei de garantir vaga mais cedo... O entreeixos é bastante interessante, 2,54 m, garantindo um bom espaço interno. Para quem viaja atrás, os assentos de 37 cm de altura também ajudam a abrir espaço para as pernas.
Voltando ao design externo: suas linhas são fluidas, apesar do estilo caixa, com faróis ligados a capô (as luzes repetidoras de seta são integradas, formando uma espécie de sobrancelha), para-choque e para lama. Aliás, tão ligado é o pára-choque, que avança sobre o capô para abrigar o duplo chevron e a inscrição "Picasso", que dá a impressão de que o carro não tem para-choque. Na traseira as lanternas são elevadas e aí sim, há um para-choque preto. Na tampa, sob os chevrons, também há cromados.
Vista de lado, a nossa bolha quadrada (parece a reta curva criada por um famoso narrador esportivo...) evidencia um segredinho para eliminar um problema de alguns monovolumes: o ponto cego formado entre o para-brisa e o vidro lateral dianteiro. A união desses dois pontos traz uma janelinha, que amplia consideravelmente o campo de visão, a luminosidade e, por que não dizer, a segurança a bordo. Segundo a Citroën, a área total envidraçada pode chegar a 4,52m² se o carro vier com teto solar panorâmico, opcional que não existia (também não havia rack de teto) na unidade testada.
Em que pese a variedade de automóveis disponíveis na Europa, o C3 Picasso destoa na paisagem e, por onde passa, ainda atrai olhares dos franceses, curiosos com a novidade. Durante esses dias, vi poucos exemplares nas ruas (mais exatamente, três, sendo uma em Paris, uma em Saint Malo e uma na estrada, perto de Nantes).
Vista do painel: câmbio integrado e saídas de ar "quadradinhas"
Por dentro chama a atenção o bom nível de equipamentos. Para começar, o banco que naquela noite fez as vezes de cama desliza 15 centímetros sobre um trilho, permitindo ampliar, ao gosto do cliente, o volume do porta-malas, que em condições normais é de 500 litros, chegando a 1.506 litros com o banco traseiro, que é fracionado 1/3 e 2/3, deitado. Objetos compridos, de até 2,41 m, podem ser transportados deitando o encosto do assento do passageiro dianteiro. Os comandos de modularidade são extremamente fáceis de lidar, mesmo por pessoas com pouca (ou quase nenhuma) habilidade manual.
Sentado em posição elevada, o motorista tem à disposição todas as informações úteis à condução, em um conjunto de mostradores posicionados mais ao centro do painel. Em uma telinha translúcida, é possível conferir velocidade, giro do motor, quilometragem, bem como dados do controlador e do limitador de velocidade (acionados por um comando integrado à esquerda da coluna de direção).
Mais ao centro, há os dados do rádio (e toca-CDs) e do computador de bordo, bem conhecidos dos brasileiros, acionados por um comando semelhante ao do controlador, mas na mão direita. Mais à direita, também sobre o painel, há as luzes de advertência (óleo, luz da seta, ABS, essas coisas...). Não, o miolo central do volante não é fixo (lembre-se, isso é da família C4...). Mas o volante traz costuras extremamente bem acabadas.
Sua alavanca do câmbio vem integrada ao painel. No console central, acima do rádio, há os comandos para desligar o ESP (controle de estabilidade), o som do sensor de estacionamento (no caso, traseiro) e a trava central. Os comandos do ar-condicionado, automático de duas zonas (as saídas de ar são também quadradinhas, imitando aço escovado), permitem regulagem na posição "Mono", quando o motorista está sozinho, por exemplo, colocando os dois lados com a mesma temperatura. Com a tecla desapertada, motorista e passageiro fazem a regulagem mais conveniente. Ao lado do botão do pisca-alerta, outro mimo: um curioso porta-cartões.
Sob a alavanca de mudanças, mais pertinho da do freio de mão, há um par de tomadas de 12 volts. Ops, não são tomadas de 12 volts. A da esquerda é, mas a da direita abriga uma entrada para conector e cabo USB (para ouvir suas músicas, basta encaixar seu MP3 player e selecionar no rádio "saída auxiliar").
No batente interno das portas, um tecido colorido (no caso, azul) segue a cor do veículo, uma chamativa Blue Belle (custa 420 euros como opcional). No Brasil esse tipo de tecido colorido já foi colocado na multivan Berlingo (lançada em 1998) e não agradou muito. Nos vidros laterais traseiros, há uma tela de proteção embutida, presente em minivans de categorias mais elevadas (e providencial para proteger do sol). Não faltam porta-objetos, tanto nas portas quanto no console central. O próprio painel traz baias que na viagem se transformaram em porta-moedas.
Mesinhas tipo avião, com luz
No banco de trás, além de um porta-objetos embutido no centro, os passageiros têm à disposição mesinhas tipo avião, com direito a uma luzinha que pode ser acionada ou desligada por um botão. Por fim, outro item ainda raro no Brasil (só presente em modelos mais caros ou importados): sistema Isofix para fixação de cadeirinha de criança, que torna muito mais rápida e prática sua colocação. Para vigiar os pequenos, há no teto, logo acima do retrovisor interno, um espelho convexo (isso existe em alguns C3 no Brasil).
Conduzir o C3 Picasso não é nada cansativo. Longe de ser um esportivo, o modelo oferece uma boa agilidade, apesar de o motor ser 1.4, com um bom nível de ruído (para ajudar, os vidros das janelinhas laterais dianteiras e janelas das portas dianteiras têm espessura de 3,85 milímetros, contra 3,15 mm normalmente oferecidos). Os engates do câmbio são precisos e outro destaque positivo é o torque (força) de 13,78 kgfm a 4.000 rpm, interessante para condução na cidade, com direito a superar com desenvoltura lombadas em terceira marcha.
A versão prefere a economia ao desempenho. Dados de fábrica dão conta de que a aceleração de 0 a 100 km/h acontece em 12,2 segundos (compatível com a motorização), com velocidade máxima de 178 km/h, enquanto o consumo de gasolina é de 10,87 km/l na cidade e de 17,86 km/l na estrada. Sim, pelo tanto que rodou, o modelo fez bonito.
Manobrar é muito fácil. Além do já citado sensor de estacionamento, o veículo vem com direção elétrica variável de acordo com velocidade e ângulo do volante. O que para alguns carros seria preciso dar ré, no C3 Picasso tudo fica mais fácil graças ao raio de manobra reduzido, de 10,6 m.
O sistema eletrônico ESP (que integra o comando antipatinagem ASR) é um opcional presente no C3 Picasso testado. De série, o modelo traz freios com sistema ABS (antitravamento), REF (repartidor eletrônico de frenagem) e AFU (assistência à frenagem de urgência). Caso se pise no freio repentinamente, o pisca-alerta é acionado automaticamente.
Nas curvas o modelo gruda no chão e responde prontamente a todos os comandos do motorista. A suspensão dianteira é do tipo pseudo-McPherson, com barra anti-inclinação. O eixo traseiro é bastante rígido, para garantir firmeza. Só traz um incômodo característico das minivans: na estrada, por ação de vento lateral ou pela resistência do ar ao passar por outro carro, ele balança um pouco.
Para quem busca segurança, não faltam airbags. Para o motorista, há de série uma bolsa de ar frontal. Dependendo do país em que é comercializado, vem também com um airbag lateral com coluna de direção retratável, para a proteção de joelhos e tíbias. Há ainda airbags laterais e tipo cortina integrado ao teto (a unidade testada tinha todos os seis possíveis).
Com o C3 Picasso, cuja versão europeia é fabricada a unidade eslovaca da PSA em Trnava a uma escala prevista de 110 mil por ano, a Citroën desafia todos os que exorcizavam as formas quadradinhas. Bem que poderia ser vendida no Brasil, onde será fabricada em Porto Real (RJ), em uma versão que não a aventureira. Iria agradar bastante, muito embora dificilmente chegue tão bem equipada a um preço competitivo. De qualquer forma, o C3 Picasso não deixa de ser uma caixinha de (boas) surpresas.
FICHA TÉCNICA
Citroën C3 Picasso
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16V, a gasolina, 1.397 cm³ de cilindrada
Potência: 95 cv a 6.000 rpm
Torque: 13,78 kgfm a 4.000 rpm
Direção: elétrica
Câmbio: manual, de cinco velocidades
Suspensão: dianteira tipo pseudo-McPherson, com braços inferiores triangulados; traseira com eixo de torção e travessa deformável
Freios: a disco nas quatro rodas, com ABS, REF e AFU de série (ESP opcional)
Dimensões: 4,08 m de comprimento; 1,73 m de largura; 1,62 m de altura; 2,55 m de entreeixos
Peso: 1.259 kg
Tanque: 50 litros
Porta-malas: 500 litros
Preço: 14.995 euros (cerca de 17 mil euros a versão avaliada)
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Avaliação C3 PICASSO
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Re: Avaliação C3 PICASSO
Eu vi esta reportagem no UOL Carros porém achei muito feio. Tudo muito esquisito. Exterior e Interior. Parece que tão querendo reviver a tendência do Renault Twingo. Não gosto, mas como sempre gosto é muito pessoal.

Re: Avaliação C3 PICASSO
Ehehehehe aqui em casa tivemos um Twingo e foi o melhor carro ''step'' que ja tivemos!!! so nao temos mais pq parou de fabricar...
abs!!!
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Re: Avaliação C3 PICASSO
Eu achei um carrinho legal, mas não é meu perfil e não teria um. Mas parece ser um ótimo veículo pro dia-a-dia!