Assuntos diversos, piadas, videos e etc..
Avatar do usuário
brunollo
Membros
Mensagens: 1185
Registrado em: 01 Mai 2009, 10:36
Estado: DF
Cidade: Brasília
Veiculo: C4 VTR

Puma GTS

Mensagem por brunollo »

Puma GTS

Por André Giusti

Puma GTS

Agachou-se junto ao carro e encostou uma das
faces na lateral da carroceria de fibra de vidro, bem
no final da traseira. Sorria tirando uma linha do modelo.

Diriam mesmo que apreciava uma bela dona na
praia, a julgar pelo prazer de seus olhos admirando as
linhas arredondadas dos paralamas, o arrojo das rodas
esportivas. Levemente, com a ponta do dedo, contornou
as letras estilizadas em metal do emblema pregado
ao capô: Puma GTS. Soletrou as iniciais separadamente
e com firmeza, para que saíssem bem claras:
G-T-S. Grand Turismo Spyder, era esse o significado,
o que também foi dito em bom som no silêncio
da garagem. E como houvesse estacionado há poucos
minutos, suspenso no ar ainda pairava o cheiro da gasolina
queimando no velho motor de 1. 600 cilindradas.

Respirou fundo, como quem cheira eucaliptos
numa floresta.
Abaixou a capota de lona. Com ela assim, ganhava
mais destaque a principal graciosidade do modelo.

Chegou-lhe às narinas outro cheiro que o deliciava: o
do couro dos bancos e do painel, curtido pelos anos.

Inspirou novamente, feito um provador de essências.
Quando se preparava para entrar no carro e sair
de novo, a mulher chegou lá de dentro. Também foi e
voltou com os olhos pelo carro, mas sem admiração.
Ao contrário, fazia o ar impaciente de quando não se
enxerga necessidade nos objetos.

– De que ano é esse carro? – perguntou ríspida, a
voz amargando contrariedade.

Já ao volante ele respondeu seco, sem deixar-se
roubar de sua contemplação.

– 78.
Ela permaneceu em pé, ao lado. Calada, mastigava
condenações como se fossem chicletes passados
e sem sabor, há horas na boca. Um modelo mil, zero
qui lômetro, muito mais útil à família, talvez custasse
até menos do que aquilo ali, atravancando a garagem.

– Ainda por cima, amarelo – acabou deixando escapar,
confirmando irritação.

Ele verificava botões no painel, inabalável. Sacudiu
de leve a alavanca do câmbio para mostrar que
não o atingia o azedume da mulher. Olhou-a com a
frieza de uma lâmina de gelo.

– É, amarelo – e respondeu sem perguntar qual
era o problema com a cor. – Foi moda na época, eu
adorava – ele explicou, mas na verdade queria dizer
outra coisa: ela que aceitasse, não pretendia desfazer
o negócio.

A mulher descruzou os braços tensos, que desabaram
na linha da cintura. Ela que se conformasse agora
com aquele playboy tardio, tomado de embevecimento
solene, entregue a transcendências feito alguém que
entoa mantras, medita no monte, ora na catedral.

– Em 78 eu tinha quatro anos – ela pensou em
voz alta, e logo imagi nou o que diriam os vizinhos
se ouvissem: então, ela também estava ficando velha?
Deu-se por vencida, voltou para dentro sem que ele
notasse de pronto.

Mal a mulher saiu, chegou o cunhado. Só foi
percebido porque abriu a boca com a costumeira empáfia
e desprezo normal por tudo que não era contemporâneo.

– Esse carro não tem timer de ar-condicionado
nem controle elétrico de retrovisor?
Ele ajeitava os retrovisores, para não se irritar.

– Não, na época não existiam essas frescuras – e
quando respondeu, virou a chave na ignição. Acelerou
o motor barulhento que gritava pelo cano de descarga,
mais aberto que o normal. Pisou mais fundo,
mais forte, sem piedade do silêncio. Queria mesmo
que o estrondo reverberasse nas paredes e ensurdecesse
aquele fedelho de vinte e poucos anos que achava
que o mundo havia começado quando ele nasceu.

Deu ré, manobrou na porta de casa e arrancou
deixando o po rtão aberto. O fedelho que fechasse,
em vez de ficar ali parado, com aquela cara gorda e
mole de bunda flácida.

Na medida em que o giro do motor subia, o vento
da tarde entrava inteiro pelo carrinho conversível,
sem ser bloqueado por vidros elétricos fechados de
pavor. O vento entrava e remexia seus cabelos, trazia
poeira das ruas para colar em seu rosto, chegava a subir
pela barra da calça eriçando os pelos das pernas.

Desceu acelerando na primeira avenida, uma reta
inclinada com uma leve curva no meio e uma bem
acentuada no final. Ali jogou a terceira, o ronco do
motor na reduzida venceu o barulho do vento e ganhou
o céu entardecido de outubro. Na saída da curva,
apertou de vez o acelerador e o motor encheu novamente.

O ponteiro do conta-giro subiu trazendo de
volta com ele o vento indomado da velocidade. A liberdade
é amarela e conversível, foi o átimo de poesia
que lhe veio à cabeça. Sorr iu com gosto. Não tivesse
as mãos ao volante, anotaria a frase para que depois
de sua morte os netos a encontrassem em papel envelhecido
dentro de um livro e a creditassem a autor desconhecido.

Inspirou o perfume volátil que misturava gasolina
queimada e o cheiro de alguma flor ou árvore,
e tendo sobre a cabeça as primeiras estrelas, o pensamento
acabou pegando o caminho mal sinalizado de
um desses túneis da memória. E quando abriu totalmente
a cortina da lembrança, viu que era domingo,
desses também de outubro, em que o calor da primavera
avisa como será o verão no Rio.

Era 1980, por aí, ele ainda não tinha 13 anos.
Caminhava nem alegre nem triste pouco à frente do
grupo barulhento de seus pais, tios e primos mais velhos.
Chateado com assuntos de adulto, entrou por
uma pequena trilha de pedra ao largo da Estrada das
Paineiras e logo saiu numa clareira da mata. Deparou
com o carro amarelo, igual ao que conseguira comprar
depois de grande, estacionado junto a uma fonte
d’água. A capota arriada deixou que ele visse braços
que desciam e subiam, mãos que acariciavam om45
bros, rostos que se perdiam dentro dos cabelos. Escutou
sussurros, palavras confusas, outros sons que tempos
depois conheceu como estalos de beijos.

Menos de um minuto pode observar a cena. À
moda de bichos que pressentem a chegada sorrateira
dos homens, o casal interrompeu o amasso. O homem,
ajeitando-se no banco do motorista, estava de costas,
mas a garota ficou bem de frente e abaixou tão rápido
a camiseta branca que se ele houvesse piscado os olhos
não teriam sido aqueles os primeiros seios nus que viu
na vida. Uma eletricidade estranha atravessou músculos
que ele não imaginava existirem em seu corpo.

Era pequena, delgada, o tipo de garota que se
faz bela exatamente porque é comum. Pele, cabelos,
olhos, todos quase da co r da terra úmida da mata erguida
atrás. O olhar pousado nele logo perdeu o constrangimento
e tornou-se divertido, foi para sempre a
referência imediata quando alguma mulher o olhava
com malícia.

Renata, Marisa. Anos depois ainda achava que o
cara a havia chamado por algum desses nomes, mas
não tinha certeza porque foi exatamente nessa hora
que a família chegou também pela trilha, gritando
por ele, a mãe em voz alta “menino, assim você se
perde”, fazendo-o mais pirralho e ridículo perante os
vinte anos que a garota aparentava.

Voltou para casa sem pensar em seu time de botão,
no campeonato da escola, nas figurinhas de Fórmula 1
repetidas. Durante a adolescência, a juventude, e tantas
vezes já na fase adulta, pairou pelo escuro do quarto a
imagem nua daquele corpo de mulher, flutuando
na lua cheia entre os bancos de um carro esporte estacionado
furtivamente junto à mata. E agora, depois
que a n oite caíra por completo, reduziu a velocidade
para entrar forte numa curva, acelerar bem no meio
dela, e ao final da reta que se anunciava, quem sabe,
conseguir voltar no tempo.
Minha tolerância anda negativa com asneiras...

ettore
Membros
Mensagens: 705
Registrado em: 17 Set 2008, 01:35
Estado: SP
Cidade: Santo André
Veiculo: C4 VTR
Localização: santo andré - SP

Re: Puma GTS

Mensagem por ettore »

loco esse conto ... adorei ... da até vontade d pegar uma dessas "latas velhas" e sair pra dar uma "voltinha" sozinho sópra curtir esse momento...
c4 vtr preto ralado com teto vinil preto fosco, NASCARchips, filtro simota, 170cv (PRA MIM CONTINUA COM 170 FUI CLARO????????????????) e um retardado dirigindo uhauhauhuhauhauhuha

mitvix
Membros
Mensagens: 436
Registrado em: 11 Fev 2010, 09:47
Estado: DF
Cidade: Brasília
Veiculo: C4 Grand Picasso
Localização: Brasília
Contato:

Re: Puma GTS

Mensagem por mitvix »

Pô se uma mina que gosta de carangas ler essa estórinha vai ter orgasmos múltiplos!!!!

kkkkkkkkkkkkk

Massa!!!
Imagem
A família cresceu!!!"

Avatar do usuário
brunollo
Membros
Mensagens: 1185
Registrado em: 01 Mai 2009, 10:36
Estado: DF
Cidade: Brasília
Veiculo: C4 VTR

Re: Puma GTS

Mensagem por brunollo »

ettore escreveu:loco esse conto ... adorei ... da até vontade d pegar uma dessas "latas velhas" e sair pra dar uma "voltinha" sozinho sópra curtir esse momento...
"lata velha"... ah, essa juventude não sabe o que diz...absoluta falta de respeito com uma página importantíssima da história automobilística nacional. Um veículo clássico, uma máquina esportiva que merece toda reverência. Santa ignorância. O termo correto é "fibra velha", pô, o carro é de fibra! HAUHAUHUAHUAHUHAU

Mas falando sério. Esse é o sentimento que domina qualquer aficcionado por carro. Eu terminei um noivado porque a mulher, do nada, "decidiu" que eu tinha que vender a minha "lata velha" (termo usado por ela para definir meu Tigrinha 1998 impecável, com 168cv aspro, interior todo em couro, TODOS os equipos funcionando corretamente, pintura refeita, som completinho, lindo lindo lindo), pra juntar din din pro casório. Qualé? Daí eu disse: "Não vendo, vou ficar com o Tigra e com o C4." "Porque?"
"O C4 é pra pegar mulher, o Tigra é pra fugir delas!"
O noivado terminou ali, ahuhauhauhauhuah
Minha tolerância anda negativa com asneiras...

ettore
Membros
Mensagens: 705
Registrado em: 17 Set 2008, 01:35
Estado: SP
Cidade: Santo André
Veiculo: C4 VTR
Localização: santo andré - SP

Re: Puma GTS

Mensagem por ettore »

kkkkkkkkkkkkkkk eu disse lata velho pra generaliza cara sei q o puminha é d fibra + meu sonho é dirigir um cobra original ( shelby cobra tah o bando d desocupado q vao soltar várias piadinhas kkkkkkkkkkkkk) e esse sim é d lata kkkkkk + d lata ou d fibra vamo q vamo kkkkkkkkkkkkk
c4 vtr preto ralado com teto vinil preto fosco, NASCARchips, filtro simota, 170cv (PRA MIM CONTINUA COM 170 FUI CLARO????????????????) e um retardado dirigindo uhauhauhuhauhauhuha

mitvix
Membros
Mensagens: 436
Registrado em: 11 Fev 2010, 09:47
Estado: DF
Cidade: Brasília
Veiculo: C4 Grand Picasso
Localização: Brasília
Contato:

Re: Puma GTS

Mensagem por mitvix »

brunollo escreveu:
ettore escreveu:loco esse conto ... adorei ... da até vontade d pegar uma dessas "latas velhas" e sair pra dar uma "voltinha" sozinho sópra curtir esse momento...
"lata velha"... ah, essa juventude não sabe o que diz...absoluta falta de respeito com uma página importantíssima da história automobilística nacional. Um veículo clássico, uma máquina esportiva que merece toda reverência. Santa ignorância. O termo correto é "fibra velha", pô, o carro é de fibra! HAUHAUHUAHUAHUHAU

Mas falando sério. Esse é o sentimento que domina qualquer aficcionado por carro. Eu terminei um noivado porque a mulher, do nada, "decidiu" que eu tinha que vender a minha "lata velha" (termo usado por ela para definir meu Tigrinha 1998 impecável, com 168cv aspro, interior todo em couro, TODOS os equipos funcionando corretamente, pintura refeita, som completinho, lindo lindo lindo), pra juntar din din pro casório. Qualé? Daí eu disse: "Não vendo, vou ficar com o Tigra e com o C4." "Porque?"
"O C4 é pra pegar mulher, o Tigra é pra fugir delas!"
O noivado terminou ali, ahuhauhauhauhuah

Hahahahaha fez bem Brunollo!!! Mulher boa pra casar não é aquela que impõem, mas sim aquela que te convence que a melhor opção é fazer o que ela diz!!!!!!! hahahahahaha Amo minha mulher e ela vai exatamente por esse segundo caminho ai!!! Embora ela diga que eu só faço o que eu quero!!! kkkk
Imagem
A família cresceu!!!"

Responder

Voltar para “Off Topic”