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Você quer um sedã. Sem modismos. Um sedã e ponto final. Quer um porta-malas gigante, espaço interno considerável, um motor honesto para quando viajar com a família e ser tratado como “doutor” pelo manobrista do restaurante. Não é soberba. Para quem investe mais de R$ 70 000 num carro, o tratamento diferenciado é natural. A imponência de estilo, do tamanho da carroceria aos mínimos detalhes, passando por confiabilidade mecânica e requinte interior, podem ser encontrados na dupla Chevrolet Vectra Next Edition e Citroën C4 Pallas, em suas configurações topo de linha Elite e Exclusive. São, ao lado do Corolla, baluartes do conservadorismo nesse nobre segmento.
O Chevrolet ganhou novo visual, uma pequena retirada nas rugas e um motor mais elástico. Além disso, seu preço ficou mais justo. A Elite caiu da casa dos R$ 82 000 para fechar negócio a R$ 70 864. Já o C4 Pallas, na opção Exclusive, que sai por R$ 72 990, presenteia o consumidor com suas formas exageradas, algo que que esse tipo de público gosta. Em fevereiro, ficou à frente do próprio Vectra nas vendas. Já em março, com a fachada renovada, o Chevrolet ultrapassou o Citroën. E entre esses dois ídolos dos “tiozões”, qual a melhor escolha?
Por fora
De cara, o C4 transpira imponência. O desenho frontal francês praticamente ignora a mesmice, é único e por isso atrai. Sua linha de cintura é mais comedida. Sem vincos ascendentes, o que lhe dá uma sobriedade simples, luxuosa. Sua área envidraçada lateral em forma de arco garante boas sensações, tanto dentro como fora do carro. O desenho traseiro é outro ponto chave de sua admiração. Mesmo com um compartimento de bagagens enorme, com 580 litros de capacidade, o ousado desenho das lanternas e seus detalhes cromados laçam os olhares curiosos.
Já o Chevrolet, apesar de toda a história de sucesso do nome Vectra, não esconde o cansaço. Tudo bem, sua plástica tornou-o mais atraente. Mas é como uma mulher de 40, sem as rugas naturais da idade. Você sabe que tem 40, mas elogia “tá inteirona, hein?”. Na traseira, não houve mudança. Segundo Carlos Barba, chefe de design da marca “é uma parte do carro que os clientes adoram, não há motivo para mexer ali”, conta apontando apenas para a gravatinha dourada como sinal de novidade. Lado a lado com o C4, mesmo renovado, fica a impressão de que falta algo: requinte e tamanho – afinal são 19 cm a menos. Só novos cromados e rodas diferentes não convencem.
Por dentro – o que tem e quanto custa?
Mesmo com dimensões superiores, o C4 Pallas não leva a melhor na hora de acomodar os passageiros. Seu entreeixos tem 2,71 m, contra 2,70 m do Vectra, mas tanto na frente quanto atrás você se sentirá melhor no Chevrolet, mesmo mais estreito. Para quem viaja atrás no francês o vilão é o porta-malas. O exagero na concepção do compartimento tira centímetros valiosos das pernas. Mas calma lá, não chega a ser um aperto. A não ser que três adultos estejam por lá.
Na versão Elite renovada do Vectra, ainda há artimanhas de design que causam uma “ilusão espacial” do interior. Explicável: as faixas em cor mais clara que passam pelo meio dos encostos dos bancos fazem com que eles pareçam maiores do que são. Mais espaço por um lado, despojo no acabamento por outro.
Basta fechar os olhos e tocar nas portas e no painel da dupla. Não há como negar que a Citroen teve mais cuidado no nascimento do Pallas. Os plásticos, toda vedação e junção das peças fazem dele uma das referências em acabamento na categoria. O silêncio interior é outra benesse de tal refinamento. Em ponto morto, com os vidros fechados, é de se duvidar que ele esteja ligado. O ruído interno chega a incríveis 38 decibéis, isso corresponde ao barulho de um sussurro.
Quando você deixa de lado o tato e os ouvidos e abre os olhos, crava a vitória do C4. É claro que a Chevrolet se esforçou para melhorar a sensação de qualidade do Vectra, mas também está evidente que precisa de mais. Os grafismos do painel melhoraram na versão Elite, perdendo, enfim, a familiaridade com o Celta. Mas sua disposição – com dois círculos centrais grandes e dois menores nos cantos – é o mesmo desde o início da década. E, numa boa, é mais que uma covardia comparar qualquer painel com o do C4. Ergonomicamente faltam idéias no Chevrolet. Para regular a temperatura do ar-condicionado digital, por exemplo, você tem de desviar a atenção do trânsito, olhar lá embaixo do console. No Pallas você faz isso por comandos no volante, por exemplo.
Quanto aos equipamentos, eles dão show, mas o Vectra leva a melhor. Entrega de série o câmbio automático, ABS, air bag duplo, MP3 player com Bluetooth e SD card e traz a opção de contar com teto solar e regulagem elétrica do assento do motorista por R$ 3 345. Coloque aí mais R$ 844 da pintura metálica e terá um Vectra completíssimo por R$ 74 853. Já o Pallas esquece dos airbags de série e do Bluetooth. Para equipá-lo com essa a dupla, mais faróis de xenônio direcionais, ESP, a mesma regulagem elétrica do assento do motorista e bolsas infláveis de cortina, kit que compõe o pacote Technologique, o consumidor desembolsará mais R$ 6 937. A pintura metálica sai por R$ 925.
Na pista
Na hora de acelerar, nenhum dos dois tem “cacoete de atacante”. A cabine em nada lembra um esportivo e o “ronco” é algo que você só ouvirá se algum passageiro dormir profundamente. Ambos são suaves, não assustam. Contudo, a posição de dirigir do Pallas agrada mais. O volante do Vectra não é tão centralizado quanto no Citroën. Repare nas fotos que ele parece um tanto deslocado à esquerda. Tudo bem, não é nada que lhe faça desistir do carro, mas quando sai de um e entra no outro, sente na hora qual é o mais gostoso de dirigir.
Na pista, em desvio repentino de trajetória com velocidade acima dos 80 km/h, só palmas. Ambos têm excelente dirigibilidade. O Pallas mostra até uma faceta mais agressiva, devido à rigidez de sua carroceria e a firmeza da suspensão. Por tal motivo é um tanto avesso aos buracos. Em desvios mais curtos, a velocidades mais baixas, a resposta da direção do Vectra é melhor. Na Next Edition, o corpo de engenharia da fabricante conseguiu aprimorar o que já era uma referência. O carro parece ignorar suas dimensões tamanha a agilidade dinâmica. Contudo, na hora de ver os números...
Pois é, faltam argumentos ao 2.0 Flexpower. Um é o motivo de ainda existir, aliás, esse bloco é dos tempos do Monza SL/E. O outro é que só se conseguiu tirar mais potência dele aumentando o limite de rotações. O antecessor gerava 128 cv, abastecido a álcool, com tal potência máxima atingida em 5 200 rpm, agora ele vai aos 140 cv, mas acelera até as 5 600 rpm. Ou seja, o regime do motor e o trabalho da injeção são os mesmos. Só mudou a elasticidade do propulsor. Demorou 13s1 para ir aos 100 km/h e levou 13s3 para retomar velocidade, de 60 km/h aos 120 km/h. Mas aí a culpa é dos dois, do motor e do câmbio automático de 4 marchas, AF-20, também advindo dos anos 1990.
O Pallas não empolga, mas mesmo com 141 kg a mais deixa o Vectra pequenino no retrovisor. Sai da imobilidade aos 100 km/h em 11s3 e retoma dos 60 km/h aos 120 km/h em 10s9. Nas acelerações, como no Vectra, o culpado é o câmbio de quatro marchas lento. O motor 2.0 16V tem a maior potência e torque da categoria, gera 151 cv a 6 000 rpm com álcool e 21,6 kgfm de torque a 4 000 rpm, mas em trechos urbanos sua displicência em baixas rotações incomoda um pouco. Mesmo assim é mais agradável que o oponente além de que, quando bem calibrado, troca as marchas em modo “Drive” sempre às 4 000 rpm, parece um relógio.
Bolso
Os gastos com qualquer um da dupla não são dos mais atrativos. O consumo de combustível é desanimador. O C4 roda 5,8 km/l com álcool na cidade e 9,7 km/l na estrada, já o Vectra não passa dos 5,5 km/l em trecho urbano e chega suando nos 8,9 km/l em situação rodoviária. O seguro do Pallas também é mais barato. Na média fica na casa dos R$ 2 845, enquanto o do Vectra flerta com os R$ 3 600. As vantagens do GM ficam por conta da maior rede de concessionárias... e só. De resto, se essa for a sua escolha sempre vai gastar mais andando de Chevrolet. Sempre.
Se você colocar na balança os prejuízos no bolso e outras virtudes, que vão do acabamento interno, passando pelo desempenho e até o status que terá nas ruas, a vitória é do C4 Pallas. Inconteste. Entre eles, é no francês que você se sentirá mais doutor, Doutor.